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Em 2021, país tinha 12,7 milhões de jovens que não estudavam nem estavam ocupados

Apesar da queda frente a 2020, primeiro ano da pandemia, o número de jovens que não estudavam nem estavam ocupados foi de 12,7 milhões em 2021, o que corresponde a 25,8% das pessoas de 15 a 29 anos de idade. Deste montante, 41,9% eram de mulheres pretas ou pardas, 24,3% de homens pretos ou pardos, 20,5% de mulheres brancas e 12,5% de homens brancos. Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada hoje (02) pelo IBGE.

O indicador do IBGE inclui simultaneamente os jovens que não estudavam e estavam desocupados (que buscavam uma ocupação e estavam disponíveis para trabalhar) e aqueles que não estudavam e estavam fora da força de trabalho, ou seja, que não tomaram providências para conseguir trabalho ou tomaram e não estavam disponíveis. Esse indicador é, portanto, uma medida mais rigorosa de vulnerabilidade juvenil do que a taxa de desocupação, pois abrange aqueles que não estavam ganhando experiência laboral nem qualificação, possivelmente comprometendo suas possibilidades ocupacionais futuras.

Vale ressaltar que o módulo anual de educação da PNAD Contínua não foi à campo em 2020 e 2021. Nesse sentido, a condição de estudante que compõe o indicador dessa divulgação não incluiu alguns aspectos da qualificação juvenil, como frequência em curso técnico de nível médio, curso normal (magistério), curso pré-vestibular e curso de qualificação profissional (cursos de formação para determinada ocupação).

“No primeiro ano de pandemia houve queda no grupo de jovens que estavam ocupados e essa queda não foi compensada pelo aumento no percentual dos jovens que só estudavam. Portanto, houve um aumento no número de jovens que não estudam e nem estão ocupados. Apesar da leve recuperação observada em 2021, essa condição continua afetando mais de 1 ⁄ 4 dos jovens de 15 a 29 anos”, explica Betina Fresneda, analista do IBGE.

Nos estados do Norte e Nordeste (exceto Rondônia), os percentuais de jovens de 15 a 29 anos que não estudavam nem estavam ocupados ficaram acima da média nacional (25,8%). Já os estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (exceto Rio de Janeiro) ficaram abaixo da média.

Os maiores percentuais de jovens que não estudavam nem estavam ocupados estavam no Maranhão (37,7%) e Alagoas (36,6%) e os menores, em Santa Catarina (12,2%) e Paraná (17,9%).

Entre países da OCDE, Brasil tinha o terceiro maior percentual de jovens adultos que não estudavam nem estavam ocupados de 2020

Uma análise do grupo etário de 18 a 24 anos de idade, faixa comparável com outros países membros e parceiros da OCDE, evidencia que, em 2020, não estar ocupado nem estudar se tornou a situação mais comum entre os jovens adultos no Brasil. O percentual dos jovens que não estudavam nem estavam ocupados passou de 29,3% em 2019, para 34,1% em 2020, ultrapassando o percentual de jovens adultos em qualquer outra situação de atividade. Em 2021, o percentual de jovens de 18 a 24 anos que não estudavam nem estavam ocupados permaneceu elevado, em 31,1%.

Esses resultados diferem dos divulgados para a maioria dos países presentes na publicação Education at a glance de 2021. Os jovens conseguiram aproveitar o primeiro ano da pandemia para estudar. Exceção feita por alguns países, como Brasil, Colômbia, Canadá e Estados Unidos, que experimentaram aumentos significativos nessa parcela de jovens. Além disso, em relação a todos os membros e parceiros da OCDE, somente África do Sul e Colômbia possuíam percentual de jovens adultos que não estudavam nem estavam ocupados superiores ao brasileiro em 2020.

“Em 2020, os países da OCDE conseguiram amortecer essa situação desfavorável do mercado de trabalho, com algumas exceções: Brasil, Colômbia, Canadá e Estados Unidos. Isso fez com que nesse ano, o mais crítico para o mercado de trabalho, o grupo de jovens adultos que não estudavam nem estavam ocupados se tornasse a situação de atividade mais frequente desses jovens, representando mais de 1 ⁄ 3 dessa população”, analisa Fresneda.

Em 2021, nível da ocupação cresceu, mas continua menor que o de anos anteriores

O nível de ocupação passou de 51,0% em 2020 para 52,1% em 2021. Apesar desta alta, o indicador continua bem abaixo de 2019 (56,4%) e, também, distante do ponto mais alto da série (58,1%), atingido em 2012 e, novamente, em 2014. O nível de ocupação das mulheres recuou em 2020 e se recuperou mais lentamente em 2021, ampliando a distância entre homens e mulheres. Enquanto o nível de ocupação dos homens no biênio 2019-2021 decresceu em 3,7 pontos percentuais e alcançou 63,1%; para as mulheres a queda foi de 4,8 pontos percentuais, atingindo 41,9% em 2021.

“O nível de ocupação cresceu em relação a 2020, mas permanece abaixo dos anos anteriores. Além disso, a ocupação das mulheres caiu mais em 2020 do que a dos homens e se recuperou mais lentamente em 2021, ampliando essa diferença entre os sexos”, avalia João Hallak, gerente da pesquisa.

Em 2021, a população ocupada de cor ou raça branca recebia rendimento-hora superior à população de cor ou raça preta ou parda, qualquer fosse o nível de instrução. A maior diferença foi na categoria Superior completo, R$ 36,70 contra R$ 26,00, ou seja, 40,8% acima. Considerando o valor total médio, a diferença foi de 69,0% em favor da população branca.

Taxa de subutilização atingiu o maior valor da série em 2021

A taxa composta de subutilização agrega três componentes: desocupação, subocupação por insuficiência de horas e força de trabalho potencial, que inclui as pessoas que não estão ocupadas, porém tomaram alguma medida efetiva para conseguir trabalho, mas não estavam disponíveis para trabalhar ou não realizaram busca por trabalho apesar de desejarem e estarem disponíveis.

Na série 2012-2021, a menor taxa foi observada em 2014, 15,9%. Em decorrência da crise econômica no final de 2014 e início de 2015, a taxa subiu a partir desse ano, seguindo nessa trajetória até 2018, quando atingiu 24,7%. Em 2020, ela voltou a subir, atingindo um novo patamar, 28,3%, e chegando ao maior valor da série em 2021, 28,5%.

Portanto, a crise no mercado de trabalho iniciada na ocasião da pandemia de COVID-19 agravou ainda mais a situação de subutilização da força de trabalho brasileira. A taxa se revelou mais elevada para mulheres e para as pessoas de cor ou raça preta ou perda. Em 2021, 35,4% das mulheres e 33,2% das pessoas pretas ou pardas estavam subutilizadas.

“Entre 2012 e 2014 houve redução na taxa de subutilização, porém, a partir de 2015, seguindo uma tendência do mercado de trabalho, ela vem aumentando, crescendo 10,2 pontos percentuais até 2021. Em números absolutos, eram 19,4 milhões de pessoas subutilizadas em 2015 e 32,6 milhões nos resultados observados em 2021”, avalia Denise Guichard, analista da pesquisa.

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