Pesquisadora da Unitins faz estudos para saber o impacto da pandemia em comunidades quilombolas

professora da unitins realizando pesquisa pelo Microscopio para avaliar os impactos da pandemia nas comunidade quilombolas

“Eu trabalho pelo menos 12 horas entre pesquisa no computador e atividades na Universidade”,

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há também trabalho de campo e laboratorial. Este é um trabalho que a professora Lilian Natália Ferreira de Lima se dedica há pelo menos 8 anos: o desenvolvimento de pesquisas científicas. Lilian, que está pesquisando o impacto da pandemia do Coronavírus em comunidades quilombolas, é mais uma personagem da série de reportagens Mulheres do Tocantins, em referência ao mês das mulheres.

Atualmente 56 pesquisas desenvolvidas na Universidade Estadual do Tocantins (Unitins), têm à frente, na sua coordenação, uma mulher. Dessas, pelo menos seis têm a professora Lilian como coordenadora, que também atua como professora no curso de Enfermagem da Unitins, no campus de Augustinópolis.

Natural de Igarapé-Açu (PA), Lilian viu seu desejo de ser pesquisadora surgir quando ainda era criança. “Acredito que eu estava predestinada a ser pesquisadora, quando eu era criança, nós morávamos na roça e meu pai recebia visitas de um grupo de alemães e algumas pessoas da Embrapa que orientavam produtores rurais da região sobre a questão das queimadas. Eles visitavam a roça, faziam perguntas, tiravam fotos, anotavam, eu olhei e falei que queria fazer o que essas pessoas fazem, mas não sabia o que era aquilo de fato”, lembra.

Ligada à natureza e às plantações desde a infância, a professora resolveu prestar vestibular para Ciências Biológicas na Universidade Estadual do Pará. Na faculdade, o contato com a pesquisa científica veio logo nos primeiros estágios realizados na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Desde o estágio nós já íamos para o campo, tínhamos contato com as comunidades, e eu gostava muito, a minha origem não me fez achar que aquilo era coisa de outro mundo, muito pelo contrário, era motivador”, recorda.

Mas foi no ano de 2014, quando ingressou como professora da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins), no Campus de Augustinópolis, que Lilian começou a realizar pesquisas na área da saúde, mais especificamente, na área de virologia. Um dos seus sonhos? Criar a vacina contra o HIV. “Meu sonho era desenvolver a vacina do HIV, pesquisador sonha muito, né? Mas aqui no Tocantins eu tive a oportunidade de trabalhar com outro retrovírus que é o HTLV. E também trouxe várias outras possibilidades como a de trabalhar a vigilância epidemiológica de biomarcadores de infecção por Sars Cov 2 (coronavírus) nas comunidades quilombolas”, ressalta.

O trabalho científico

Quando a pandemia da covid-19 começou em março de 2020, os noticiários mostraram dia após dia a evolução da pandemia, nos países, estados e cidades. Observando os jornais, e as publicações da comunidade científica em geral, a pesquisadora começou a perceber que haviam poucas, ou nenhuma, notícia relacionada às populações quilombolas. A inquietude virou curiosidade, e a professora começou a se perguntar como estavam os casos de infecção da covid-19 nas comunidades quilombolas do Tocantins. A curiosidade deixou o campo das ideias e foi transformada em projeto de pesquisa.

“Eu como pesquisadora, sempre vejo o mundo como um lugar cheio de possibilidades, e nós vivemos em um Tocantins rico em conhecimento e o apoio da Unitins me permite explorar esses conhecimentos. Então eu sempre analiso, observo os lugares em que vou, os contextos em que estamos vivendo; identifico um problema e vou buscar respostas para tentar entender o porquê aquilo ocorre, claro, dentro da minha área que é a virologia humana”, explica.

A coordenação da pesquisa é da professora Lilian, mas para que a pesquisa seja efetivada é necessário estabelecer parcerias. A equipe coordenada por ela conta com pelo menos dez pessoas, entre pesquisadores e estagiários. Mesmo com uma boa equipe, a professora revela que existem desafios na hora de realizar as pesquisas científicas, e por isso, as parcerias com outras universidades são importantes. “Eu sou a coordenadora da pesquisa no Estado do Tocantins, mas também conto com apoio de pesquisadores de outras Universidades e nesse projeto estabelecemos a parceria com o laboratório de virologia da Universidade Federal do Pará (UFPA)”.

Questões de gênero

Além dos desafios técnicos enfrentados na realização das pesquisas, as mulheres, de maneira geral, enfrentam outro desafio, o julgamento. Casada, mas sem filhos, a professora Lilian relata que a escolha, de se dedicar mais a sua carreira do que a família, é tida como egoísta. “Tem gente que acha que isso é loucura. Me perguntam porque não tenho filhos, porque eu estudo tanto, porque trabalho muito e esse é o tipo de cobrança que as mulheres têm na nossa sociedade. Quando você chega, em algum lugar, a primeira coisa que as pessoas questionam é sua rotina de trabalho. Infelizmente isso não ocorre só comigo, se a mulher priorizar a carreira dela, ao invés de cuidados com o lar, é tido pela sociedade como egoísmo”, desabafa.

Mas apesar de todos os desafios, a professora segue realizando suas pesquisas, pois diferente do egoísmo que alguns enxergam, os resultados da pesquisa científica ajudam o coletivo. “Eu sempre quis viver disso, viver para a comunidade, entender como as pessoas vivem e de alguma forma contribuir para que aquelas pessoas vivam melhor. E o que me deixa feliz, como pesquisadora, é poder contribuir com as pessoas que vivem em condições de vulnerabilidade. A gente espera também que esse estudo possa vir contribuir com os gestores públicos da região, com informações epidemiológicas, que possam ajudar na tomada de decisão e criação de políticas públicas em saúde para atender as comunidades quilombolas”, ressalta.

A pesquisa realizada pela professora se encontra na fase de aplicação de questionários e coleta de material biológico, devidamente aprovada e registrada com o CAAE:51817221.0.0000.8023, pelo comitê de ética de pesquisa com seres humanos (CEP) da Universidade Estadual do Tocantins.

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